quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um pouco de filosofia

Muitas pessoas discutem sobre a existência de um lugar ideal. Será que o Céu existe mesmo? Será que lá há lugar para nós? Aqui eu exponho a minha visão sobre o assunto, no poema "Cá dentro".

Cá dentro


O tempo passa lá fora;
não sei como, pois não estou lá.
E nem sei mesmo como passa o tempo cá dentro,
se anda célere ou devagar.


E o tempo cá dentro não existe,
o que existe é uma perene conversa; (que harmonia!)
pensamentos leves, emoções profundas,
cruzam minha alma com mui maestria!


O tempo é banal e apenas nasceu
da necessidade humana de se recordar.
Pois os anos passam, e ainda não sei
se o tempo cá dentro anda célere ou devagar.


Cá dentro só há luz,
e paz, e gosto, e prazer, e fascinação!
Contamos o tempo pelo soprar do vento,
ou pela batida dum coração!


Cá dentro, mergulhamos (pelo menos, eu mergulho)
num mar sem ondas, verde e cristalino!
Uma imensidão sem fim, verdadeiramente pura!
Pura como o olhar mais límpido.


Cá dentro é o lugar ideal
para se divertir e se deleitar.
E ninguém sabe a quantas está o tempo,
se anda célere ou devagar.


Por isso, criamos cá dentro o nosso tempo!
Reino da paz, gosto, prazer e fascinação!
Contamos o tempo pelo soprar do vento,
ou pela batida dum coração?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sombra libertina

A quarta-feira de cinzas está aqui. Mas por que se concentrar na tristeza e na saudade deixadas pelo fim do Carnaval? Agora que a festa da carne acabou, é hora de voltar para o mundo real e tentar mudá-lo, melhorá-lo. É essencial ter esperança na capacidade humana de transformar o meio. Com esse espírito, coloco aqui alguns versos:

Sombra libertina

Ao longe, na rua deserta
uma sombra no chão se firma
o Sol, o Céu e a Terra
sorriem para a tal libertina
que dança no asfalto, sem preocupação
os movimentos são poesia
a mais pura do coração
e seu dono, que viu que o Sol
para a sua sombra sorria,
pôs em movimento novamente
a querida sombra libertina
e a Manhã suspirava, e consigo dizia:
A libertinagem é o raiar
de um novo dia.
Deus abençoe essa sombra libertina!

Mas os homens que eram conservadores
e não viam a beleza da vida
(pois em suas vidas não havia amores)
censuravam a dançarina.
Achavam que a sombra
só por ter alegria
afrontava o universo róseo
que alguém um dia construíra.
E o Sol, o Céu e a Terra
com a Manhã concordavam, que dizia:
Deus abençoe essa sombra libertina!

E a sombra e o seu dono
não pararam de dançar
no asfalto das ruas às doces melodias.
E as Árvores, o Campo, o Verde
concordavam com a Manhã, que dizia:
A sociedade precisa
de mais sombras libertinas!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Evoé, Baco! Evoé, Momo! Evoé, Vênus! Evoé, Musa!

O livro está na mesa e o bloco está na rua! Carnaval chegou!
Evoco aqui Momo, Baco, Vênus, e a Musa da Poesia, os deuses do Carnaval. E evoco também o bardo Manuel Bandeira, que louvou a festa da carne em um belo poema chamado "Bacanal". Por que não colocar aqui o meu poema "A festa" ao lado de "Bacanal"? Essa será a minha oferenda aos deuses da folia, às escolas de samba, aos blocos de rua, a todos os foliões, aos mihares de arlequins, colombinas, pierrots, ninfas bacantes, anjos, diabos, índios, enfermeiras, doentes, noivas, piratas...!

A festa

Sorriam, todos vocês,
esta é a nossa festa!
Bebam quanto quiserem,
apreciem nossas bandas e orquestras.

Se vamos tocar valsa, meu senhor? Oh, não!
Se haverá o minueto francês? Absolutamente!
A erudição é um fantasma,
e a alegria, uma bela demente.

Não, não temos champagne francês,
nem vodka russa, eu lamento.
Bebam nossa cachaça
para acabar com o vosso tormento.

Esta noite será como uma estrela eterna,
como um fogaréu crepitante e vivo
que nunca se desfará em cinzas.
Esta noite é o cálice
da mais nobre alegria.


Bacanal

Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
_ Vinhos!... o vinho que é meu fraco!...
Evoé Baco!

O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!

Evoé a todos!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Revolução

É essencial que todos tenham consciência de como a palavra é poderosa. Em um país como o Brasil, o reconhecimento do potencial da palavra é ainda mais crucial. O povo só se libertará quando perceber que a escrita traz o conhecimento, e que é preciso penetrar em seus segredos para mudar a realidade.
Deixo aqui um poema oportuno.

Revolução

A palavra destrói os grandes reinados
por trás de uma gota de sangue, tinta azul há.
A palavra que afaga, que sorri amiga,
é a mesma que pode chicotear.


Da coroa de ouro e de diamantes,
com punhais a palavra há de se armar.
A palavra destrói os grandes reinados
por trás de uma gota de sangue, tinta azul há.


Escrita em lágrimas ou em sorrisos,
nos olhos, na alma, estática jazerá.
Mas se a transcrevermos em uma folha amarelada,
rubros corações há de sangrar.


Espada de luz que nos banha em tormento,
riso febril que traduz sofrimento,
leais traidores a nos circundar.
A palavra que afaga, que sorri amiga,
é a mesma que pode chicotear.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Monotonia

Este poema foi escrito há anos, mas o sentimento que estes versos abrigam volta de quando em quando em meu espírito. Essa emoção retornou recentemente. Creio que todos vão se identificar com estes versos.

Monotonia

Da vida o sabor acre do conhecimento
de um universo antes me tão novo, sem igual
veio pungir-me a boca num lamento,
um soluço, um suspiro sepulcral.

Conhecer todas as pedras do caminho
e as grutas onde escondem-se os mistérios
dá-me uma intensa monotonia,
e minhas honras e meus méritos

que podem fazer? Vou-me embora,
explorar outro mundo de outra aurora
e meus olhos brilharão, ignorantes.
Ingênuos e doces como belas crianças,
tudo saberão, curiosos e vivos,
e eu irei embora como antes.

Bela Balada

Por que não fazer o caminho inverso? Vou desrespeitar a cronologia e colocar primeiro o último poema do meu livro. Afinal, o tempo deve servir à Arte! Carpe diem.

Bela Balada

Fazer sentir o vibrar da emoção,
e ser eterno o fugidio lampejo,
perenizar o bater do coração,
iluminar a luz de um triste beijo,

Enevoar o mundo na boa bruma
que se assemelha ao soprar do vento;
diferenciar cada um dos mil arquejos,
fantasmas com a corrente do tormento.

Nas palavras, pouco a pouco, construir
etéreo e diáfano refúgio,
de onde se veja o mundo com clareza
e onde se possa abrigar contra o Dilúvio.

Aprisionar emoções, momentos, não é esse o meu intento,
a intenção do poeta é a expansão;
Permitir, humilde, as sensações ocultas em suas palavras,
como uma música, viver em eterno movimento,
graça estrelar e, principalmente, transmutação.

Dedicatória

 Esta é a dedicatória de "Coração in vitro":

Dedicatória
     A todos que amo


Escassas quadras

Dou-lhes estes versos como Manuel Bandeira.
Nestes versos, o mar eterno
e a brisa faceira
dou-lhes, e dou-lhes mais:
dou-lhes esta figura estranha,
que amor por vós semeia.

Apresentação

 Olá,
 Quando eu tinha quinze anos, tive uma festa de debutante. Em vez de dar uma bugiganga qualquer de lembrança aos meus convidados, resolvi presenteá-los com exemplares do meu primeiro livro de poesia, "Coração in Vitro". Procurei uma gráfica e eu mesma paguei uma pequena tiragem do livro. Este ainda não foi publicado, e este blog ajudará a divulgá-lo.
 Essa é apenas uma pequena parte da minha história. O meu amor pela Literatura remete à minha infância e à descoberta da minha imaginação. Escrever é transfigurar a realidade, buscar a imortalidade, libertar os próprios anseios e desejos... Cedo percebi isso. E essa minha paixão certamente há de durar muito.
 Em um mundo em que muitos acham que Arte é o mesmo que entretenimento, é necessário muita luta para propagar o verdadeiro sentido do Artístico. É preciso que todos possam entrar em contato com a Arte genuína, que induz à catarse e à reflexão. Este blog contribuirá para esse propósito.
 Carpe diem,
 Isabela Escher Rebelo (estudante universitária).